Detalhes que realmente importam
Lázaro Magalhães
Pouco se falou, mas já se completaram mais de cem anos desde que o engenheiro inglês J. Ambrose Fleming construiu, em 1905, o primeiro diodo. Tudo, bem, você não faz a menor idéia do que seja, mas sem esse pequeno dispositivo não existiria o controle da passagem da corrente elétrica, que por sua vez não permitiria a criação da linguagem binária, que por sua vez não justificaria o nascimento dos computadores, e sem eles, não teríamos Internet e nem estaríamos debruçados sobre este texto neste blog.
Originalmente, a idéia do diodo surgiu assim: Fleming construiu um invólucro de vidro "fechado a vácuo", tal como a lâmpada elétrica de filamento inventada por Edison, com dois eletrodos dentro. Só que um dos eletrodos, denominado cátodo, deveria ser aquecido de tal modo que liberaria elétrons. O outro, denominado ânodo, ou placa, ficaria com a função de captar esses elétrons, emitidos pelo cátodo, e os enviar de novo para o cátodo, através de um circuito externo.
O detalhe é que esta passagem de corrente eléctrica só se verifica se o sinal da carga no ânodo for positivo - pois a carga dos elétrons é negativa. Assim, caso a carga do ânodo seja negativa, não existe passagem de corrente eléctrica.
Embora o diodo tenha sido inventado a princípio para detectar ondas hertzianas de alta frequência, acabou tendo seu uso adaptado para retificação de corrente elétrica. Ou seja: para transformar a corrente elétrica alternada em corrente eléctrica contínua - pois o dispositivo só deixa passar a corrente eléctrica num único sentido.
Tá, tudo bem, e daí, você pode estar perguntando agora, depois dessa chata descrição. Pois é. Acontece que sem essa pequena, desengonçada e aparentemente ridícula peça - que poderia estar perdida numa gaveta qualquer de sua garagem - não se poderia criar o sistema binário baseado em 0 e 1, resultado direto da detecção da passagem ou não da corrente eléctrica.
É por isso que se atribui ao diodo o status de ter sido o primeiro dispositivo eletrônico utilizado para a construção dos computadores. Apenas com a junção de vários diodos foi possível se construir o que conhecemos hoje como a memória binária.
Lembre disso se sentir vontade de guardar esse texto na sua máquina, em homenagem, solenemente, em um arquivo com o nome 'diodo': detalhes são realmente muito importantes - e ninguém mesmo nunca saberá ao certo em que tudo isso vai dar um dia.
Publicado em Antídoto, em 2005
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